17/02/2018 11:36:11 | ANDRÉ ESTEVES – Da Reportagem Local
O Imparcial: O senhor foi um dos envolvidos na luta contra a implantação de um aterro no Timburi. Qual é a sua relação com este local e por que sentiu a necessidade de fazer parte do movimento em defesa do bairro rural?
José Hilário: Nasci próximo ao Timburi. Inclusive, fiz o catecismo na igreja do bairro e tenho uma propriedade no local. Na época [em que a instalação do aterro foi anunciada], os moradores me procuraram para ajudar na organização do movimento. Essa luta começou no dia 15 de dezembro de 2016, dia em que foi marcada uma audiência com a empresa [Estre Ambiental]. Achavam que ninguém ia, mas levamos mais de 100 pessoas. Isso porque existe no entorno da propriedade quase 200 famílias, além de nascentes que formam o Rio Timburi, o qual é afluente do córrego da Onça e rios Mandaguari e do Peixe, que fornece água para a cidade de Prudente. A empresa omitiu tudo isso no relatório apresentado, então o trabalho da comissão foi de mostrar a realidade do bairro às autoridades e à população. Deu certo. Em setembro do ano passado, os moradores programaram um almoço e, de comum acordo, recebemos o prefeito Nelson Bugalho e outras autoridades. Na ocasião, ele anunciou que a licença de autorização do uso de solo tinha vencido e não seria mais renovada pelo município. Com isso, os moradores do bairro entenderam que ali estava concretizada a vitória do movimento.
Se esta fosse uma luta perdida, quais seriam os prejuízos da instalação de um aterro para o bairro e a comunidade que vive nele?
Primeiramente, o prejuízo maior seria para o meio ambiente, pois o Timburi é um santuário ecológico e não cabe na cabeça de ninguém instalar no local um aterro sanitário. Na propriedade adquirida pela empresa, há 19 nascentes, além de toda a população, que também teria perdido muito. Ali, residem pequenos proprietários que vivem do leite e da batata-doce. Há famílias que já estão na quarta ou quinta geração e moram lá. O bairro nasceu junto com Prudente e o trabalho da igreja já é quase centenário. Recentemente, foi criada a Associação dos Moradores e Amigos do Timburi. Juntos, estamos ampliando a área da igreja com a doação dos vizinhos e arrecadação de recursos. Teremos uma quermesse dia 18 de março, onde serão leiloadas mais de 20 cabeças de gado para a reforma da capela. A luta em defesa do Timburi causou uma união muito grande e mostrou que quando o povo quer, é difícil vencê-lo. A maior força é a união da comunidade em qualquer circunstância. Hoje é possível observar que muitas pessoas vão ao Timburi para passear, cavalgar, andar de bicicleta ou fotografar. Ninguém sabia do Timburi até então e agora o bairro é bastante conhecido.
O senhor foi o primeiro presidente da Fundação Hospital Regional do Câncer. O que o levou a abraçar esta causa?
Em 2008, eu fui acometido por um câncer na garganta e tive a felicidade e o privilégio de fazer o tratamento e me curar. Na oportunidade, estava sendo criada a fundação e fui procurado por algumas pessoas para fazer parte dessa entidade. No mesmo momento, concordei, mas com o objetivo de ser um membro. Nunca passou pela minha cabeça me tornar presidente da fundação, porém, para minha surpresa, fui anunciado para esta função. Foi um desafio muito grande para mim. Na época, a construção do hospital já havia sido iniciada, porém, ele estava projetado para ser um anexo da Santa Casa [de Misericórdia], uma construção de 9 mil metros quadrados. Com o advento da fundação, houve a necessidade de torná-lo um hospital totalmente independente. Com isso, tivemos que começar tudo de novo e alterar todos os projetos. O que era 9 mil metros quadrados [m²] passou para 15 mil m². A santa casa teve que fazer a doação de mais 5 mil m² de terreno e havia uma verba de R$ 20 milhões destinada pela Cesp [Companhia Energética de São Paulo]. Contudo, era uma dificuldade muito grande usar esse recurso, pois seria gasto o dobro disso. Com a união de todos da comunidade regional, começamos a realizar um trabalho de arrecadação e fomos muito felizes nele. Fizemos os primeiros leilões do agronegócio e agora estamos trabalhando para ter o quarto no dia 11 de março. Com isso, conseguimos terminar a obra, equipar uma parte da estrutura e colocar, em 2014, o serviço de radioterapia em funcionamento, atendendo no final de 2016 mais de 40 pacientes. Para mim, isso foi um desafio e uma vitória, não só minha e da diretoria, como de toda a comunidade e envolvidos.
Está satisfeito com a infraestrutura ofertada pelo hospital hoje?
Sim, hoje vemos que valeu a pena. O hospital está a pleno vapor, terminando de ser equipado e com a possibilidade de estar fazendo as primeiras cirurgias até o final do ano. Para mim, isso é motivo de muita emoção. O Hospital Regional do Câncer é uma realidade e já está salvando vidas há tempos, além de ser referência no tratamento oncológico e pesquisa e, o mais importante, prestar atendimento totalmente gratuito. Já faz quase cinco anos que a instituição oferece o preventivo de próstata e acho que está indo muito bem nesse trabalho. Temos ainda o serviço de radioterapia, que foi o primeiro em termos de tratamento. É um serviço de ponta e dispõe de uma das tecnologias mais modernas que têm e um corpo de profissionais de alta competência. Tenho certeza que todos os tratamentos, assim que iniciados, manterão esse nível, pois este é o intuito da diretoria: oferecer serviço de qualidade.
Em 2008, o senhor passou pelo tratamento contra o câncer de garganta e agora encerra um contra o câncer de pulmão. Como foi a sua convivência com a doença?
A primeira coisa que você tem que ter é fé e pensamento positivo. Eu sou muito otimista. Em nenhum momento, me deixei abater. As pessoas não podem esmorecer. É preciso ir atrás e ter fé que a cura vem. Sempre fui um otimista na vida e, se não fosse por isso, o hospital não estaria de pé. Quando começamos a construção, o pessoal chegava até mim e dizia que eu era maluco e não daria certo. Então respondia: “Vai dar certo”. Fiquei sete anos da minha vida lá dentro e foi o meu otimismo e o de toda a equipe que empurrou as coisas para frente. Queríamos vê-lo funcionar e ele está aí funcionando.
O que almeja para a sua vida pessoal de agora em diante?
Hoje, eu tenho uma vida realizada. Acho que, dentro da comunidade prudentina, eu sou uma pessoa realizada. E tenho minhas duas filhas, que espero que também tenham um futuro na cidade. Sou nascido em Alfredo Marcondes, mas me considero prudentino. Continuarei defendendo o Timburi se for preciso. Sempre procurei ser um voluntário das entidades e um guerreiro nas causas que entendo como justas.
Fonte: www.imparcial.com.br