O ex-presidente negou os crimes e pediu que o juiz Sérgio Moro mostre alguma prova contra ele. Ele criticou a Justiça: ‘Quem quiser votar com base na opinião pública, que largue a toga e entre em um partido político’.
Por G1 SP
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou neste sábado (7) em frente à sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo Campo, negou os crimes pelos quais foi condenado, disse que vai se entregar e provar sua inocência. Foi a primeira vez que ele falou desde sua ordem de prisão, expedida na quinta-feira (5).
“Não estou escondido. Vou lá na barba deles, pra eles saberem que eu não tenho medo, que eu não vou correr e vou provar a minha inocência”, afirmou.
Para o ex-presidente, haverá continuidade após a prisão.
“Minhas ideias estão pairando no ar, não há como prendê-las. Quando eu parar de sonhar, eu sonharei pela cabeça de vocês. Não adianta achar que tudo vai parar quado o Lula enfartar, o meu coração baterá pelo coração de vcs. Por milhões de corações. Não adianta acharem que vão fazer com que eu pare, eu não pararei pq não sou mais um ser humano. Eu sou uma ideia”, disse.
Para o ex-presidente, a Justiça julgou seu caso pressionado pela opinião pública.
“Não pensem que eu sou contra a Lava Jato, não… a Lava jato, se pegar bandido, tem que pegar bandido mesmo que roubou, e prender. Todos nós queremos isso. Todos nós, a vida inteira, dizíamos: ‘só prende pobre, não prende rico’. ‘Todos nós dizíamos. E eu quero que continue prendendo rico. Eu quero. Agora, qual é o problema? é que você não pode fazer julgamento subordinado à imprensa porque, no fundo, no fundo, você destrói as pessoas da sociedade na imagem das pessoas e, depois, os juízes vão julgar e falar: ‘eu não posso ir contra a opinião pública, porque a opinião pública tá pedindo pra caçar’. Quem quiser votar com base na opinião pública largue a toga e vá ser candidato a deputado. Escolha um partido político e vá ser candidato. A toga é o emprego vitalício. O cidadão tem que votar apenas com base nos autos do processo.”
O ex-presidente também pediu que que o juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato em 1ª instância, mostre alguma prova contra ele, e diz dormir com a consciência tranquila.
“Eu não tenho medo deles, eu até já falei que gostaria de fazer um debate com o Moro sobre a denúncia que ele fez contra mim, gostaria que ele me mostrasse alguma prova. Qual o crime que cometi neste país? […] porque sonhei que era possível governar esse país envolvendo milhares de pessoas pobres, dar vagas nas universidades e empregos para os pobres?”, questionou.
“Nenhum deles [Moro, Dallagnol] tem coragem ou dorme com a consciência tranquila, com a honestidade e inocência que eu durmo, nenhum deles. Eu não estou acima da Justiça, se eu não acreditasse da Justiça, eu não teria feito um partido político, teria proposto revolução, acredito na Justiça, mas na a Justiça justa, baseada nas acusações, na prova concreta. Eu não posso admitir um procurador que fez um power point dizendo que o PT é uma organização criminosa criada para roubar o país e que o Lula é o chefe‘ eu não preciso de provas, eu tenho convicção’, disse ele. Eu quero que ele guarde a convicção dele para os comparsas e aceclas dele. Não pra mim”, disse.
Ato religioso
Lula saiu do prédio do sindicato às 10h40 deste sábado, após ficar dois dias dentro do prédio, desde quando o seu mandado de prisão foi expedido, na quinta-feira (5).
Ao lado do ex-presidente, em cima do caminhão, estavam a ex-presidente Dilma Rousseff, o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, o líder do MTST Guilherme Boulos, a deputada Manuela D’Ávila (PCdoB), a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, Aloizio Mercadante, o senador Lindberg Farias, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, o vereador Eduardo Suplicy, entre outros.
O ex-ministro Gilberto Carvalho fez a leitura da biografia de Marisa Letícia e um padre fez uma celebração religiosa e disse que trata-se “de uma súplica pela paz justiça e solidariedade e principalmente pelo amor fraterno. Estamos reunidos para celebrar o amor fraterno com a certeza que vencerá o ódio”
Artistas, como Tulipa Ruiz e Thaide cantaram músicas, como “O que é, o que é?”, de Gonzaguinha, e “Maria, Maria”, de Milton Nascimento e Asa Branga, de Luiz Gonzaga.
Dilma também falou durante o ato: “Nós somos da paz, nós não somos nem da injustiça, nem da violência”, disse Dilma.
Fonte: g1.globo.com/sp/sao-paulo