Da Redação
Em 05/02/2020 às 12:00
Nesta quinta-feira (6), o Sesc Thermas de Presidente Prudente convida o público a refletir sobre racismo, eugenia, loucura, enfrentamentos políticos e literários com o espetáculo ‘Traga-me a cabeça de Lima Barreto’. Apresentado pela Cia dos Comuns, a sessão tem início às 20h, na área de convivência, e conta com retirada de ingressos gratuitos uma hora antes.
“Como um cérebro considerado inferior poderia ter produzido uma obra literária de porte se o privilégio da arte nobre e da boa escrita é das raças tidas como superiores?”. Esse é o embate que desenrola a peça contextualizada numa imaginária sessão de autópsia na cabeça de Lima Barreto, conduzida por médicos defensores da higienização racial no Brasil, na década de 30.
Escrita pelo diretor e dramaturgo Luiz Marfuz, com direção de Fernanda Júlia, do NATA (Núcleo Afro-Brasileiro de Teatro de Alagoinhas), o espetáculo consiste num monólogo teatral, que reúne trechos de memórias do autor, especialmente ‘Diário íntimo’ e ‘Cemitério dos vivos’, obras consideradas autobiográficas.
Nesse cenário, o personagem interpretado por Hilton Cobra vive memórias entrecruzadas com situações imaginárias que se espalham em quatro espaços dramatúrgicos: o colóquio com a plateia, as confissões íntimas, a voz do delírio e o discurso dos eugenistas.“Obviamente estamos tratando de uma situação imaginária, um Lima idealizado. Ele sempre se colocou como um escritor militante; e isso é nitidamente visível não só nos romances, mas nas inúmeras crônicas em que defendeu suas ideias humanistas”, explica Luiz Marfuz.
“A arte cria um espaço para que Lima, após uma vida marcada pelo alcoolismo, loucura, a indigência cotidiana e a discriminação racial, retorne com a consciência dessas questões para defender suas ideias”, completa.
Além de mostrar as diversas facetas da personalidade de Lima Barreto, as reflexões do espetáculo são endossadas com trechos dos filmes ‘Homo Sapiens 1900’ e ‘Arquitetura da Destruição’, cedidos pelo cineasta sueco Peter Cohen, que mostram fortes imagens da eugenia racial e da arte censurada pelo regime hitlerista.
“O diálogo crítico e politizado sobre negritude é um disparador potente do fazer cênico do NATA. Esses elementos foram fundamentais para que eu percebesse quais caminhos trilhar na construção do espetáculo. Sou uma provocadora e problematizadora por natureza, e acho que a encenação deve seguir este caminho – provocar a reflexão e problematizar o que está posto”, ressalta a diretora Fernanda Júlia.
Em cartaz há três anos, ‘Traga-me a cabeça de Lima Barreto’ coleciona mais de 150 apresentações em todo Brasil, além de ser dono do 4º Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-Brasileiras (2017), ter sido indicado ao Prêmio Cenym 2018 nas categorias Ator e Monólogo, e estar entre os 30 melhores espetáculos de 2018 pela crítica da revista Bravo!, dentre outros prêmios e indicações.
“É importante e providencial discutir eugenia e racismo a partir de Lima Barreto. Também é um reconhecimento à Lima – um autor tão pisoteado, tão injustiçado, que pensou tão bem esse Brasil, abriu na literatura brasileira ‘a sua pátria estética’, os pisoteados, loucos, os privados de liberdade – esses são os personagens de Lima Barreto. Acredito que ele deve ter sido, se não o primeiro, um dos primeiros autores brasileiros que colocaram esse ‘submundo’ em qualidade e com importância dentro de uma obra literária”, afirma o fundador da Cia dos Comuns e protagonista Hilton Cobra.
Ingressos
Sob classificação etária de 16 anos, os ingressos são gratuitos e devem ser retirados com uma hora de antecedência, na central de relacionamento, com limite de dois por pessoa.
O Sesc Thermas fica na Rua Alberto Peters, 111, no Jardim das Rosas.
Fonte: www.portalprudentino.com.br