| GABRIEL BUOSI – Da Redação

Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), vinculado ao MEC (Ministério da Educação), divulgou nesta semana os dados do Censo Escolar, que é um instrumento de coleta de informações sobre a educação básica. Ao apresentar os números da 10ª RA (Região Administrativa) do Estado de São Paulo, o levantamento mostra que o número de matrículas realizadas nas escolas estaduais rurais registrou aumento de 74,61%, ao passar de 3.270 em 2016 para 5.710 no ano passado. O novo número representa 2.440 novos estudantes na zona rural da região de Presidente Prudente.

Para o sociólogo Luiz Antônio Sobreiro Cabrera, o dado é “inusitado”, uma vez que segue na contramão do êxodo rural registrado nas últimas décadas, que é justamente o processo inverso ao atual cenário escolar. A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, por sua vez, afirma que os números eram aguardados e diz que “dentre os motivos está o crescimento industrial na região, sobretudo a indústria da cana de açúcar”.

O Censo Escolar separa o ensino regular em infantil, com creche e pré-escola; ensino fundamental, com os anos iniciais e finais; ensino médio e EJA (Educação de Jovens e Adultos).  Na 10ª RA, em oposição à crescente procura pelas unidades estaduais rurais (veja a tabela), que representaram um aumento em 74,61% de um ano ao outro, as escolas municipais urbanas são as que apresentaram crescimento na quantidade de matrículas.

 

Realidade local

A reportagem esteve em uma dessas escolas, a Celestina de Campos Toledo Teixeira, em Floresta do Sul, distrito de Prudente. Na unidade, conforme a gerente de organização escolar Maria Elizabete Rodrigues, o aumento não foi detectado de um ano para o outro, mas a elevação seria justificada pela redução na quantidade de crianças na cidade, não tanto pela migração de alunos da cidade para o campo. “Há 20 anos as famílias matriculavam três ou quatro filhos de uma só vez, mas hoje esse número dificilmente passa de um”.

Maria expõe, em um comparativo, que em 2014 eram 330 crianças matriculadas na unidade. Número que em 2017 passou para 260 alunos inscritos, e que foi para 240 neste ano. Dados que a responsável vê como significativo, uma vez que a queda é tratada como “baixa”, perto da redução na taxa de natalidade apresentada no distrito.

 

“Fato inusitado”

O sociólogo Luiz Antônio Sobreiro Cabrera, ao ser informado sobre a crescente na procura por escolas estaduais rurais, afirma que o dado é interessante, uma vez que se trata de um processo inverso ao da urbanização. Caracterizado como o “fenômeno anormal”, Luiz Cabrera diz que dentro das explicações estão as oportunidades encontradas no campo por aqueles que estão desempregados ou fazem parte do mercado informal. “Neste momento, o indivíduo recebe propostas no ambiente rural, com benefícios, salários mais dignos, e aproveita a oportunidade de melhorias na qualidade de vida. As famílias, em consequência, seguem junto ao campo”, esclarece.

 O especialista lembra que, do ponto de vista da sociologia, tais informações podem indicar um processo inverso ao do êxodo rural, mas lembra de que o fator mencionado deve ser visto como uma possibilidade e não o indicador principal. Na mesma linha de raciocínio, nesta semana o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou o índice oficial de emprego medido pela pesquisa Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) Contínua, que apontou que o setor agrícola, empurrado pelo fenômeno da super safra no primeiro semestre, puxou uma geração de novas vagas de trabalho.

 

Crescimento esperado

Para a dirigente regional de ensino Naíde Videira Braga, o crescimento nas unidades estaduais rurais não é uma surpresa, uma vez que, segundo ela, o fenômeno é aguardado nos últimos anos e planejado seis meses antes do início do calendário letivo. “Consequentemente ao crescimento na quantidade de matrículas, tivemos que ampliar a quantidade de salas em algumas unidades rurais. Tudo isso é reflexo do crescimento industrial da região, principalmente no setor da cana de açúcar”, esclarece.

Já sobre a queda apresentada pelas unidades estaduais urbanas, Naíde esclarece que o fato não está necessariamente ligado a baixa procura por parte dos pais, mas sim por fatores sociais. “Precisamos entender que por questões financeiras, por exemplo, é comum que as famílias se desloquem para outras regiões, mas vale ressaltar ainda que a taxa de natalidade diminui a cada ano que passa, o que reflete na educação”.

 

Saiba mais

Coordenado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) o Censo Escolar realiza a coleta de dados das escolas com o caráter declaratório dividido em duas partes. A primeira delas, conforme o instituto, consiste no preenchimento da matrícula inicial, quando ocorre a coleta de informações sobre os estabelecimentos de ensino, turmas, alunos e profissionais escolares em sala de aula. Já a segunda etapa se dá com o preenchimento de informações sobre a situação do aluno e considera os dados sobre o movimento e rendimento escolar dos alunos, ao final do ano letivo. Para o MEC, o levantamento é indispensável para que os atores educacionais possam compreender a situação do país, das unidades federativas, municípios e, com isso, acompanhar a efetividade das políticas públicas.

Fonte: http://www.imparcial.com.br