De um total de 21.152, apenas 2,75% são crianças e adolescentes; trabalhadores acreditam na tradição passada aos filhos
GABRIEL BUOSI – Da Reportagem Local • 12/08/2018
O produtor rural, Antônio Sérgio Mendonça, de Presidente Bernardes, afirma trabalhar desde quando era criança na zona rural e diz que essa é uma cultura já enraizada na família, pois o avô e o pai fizeram com que essa tradição – e amor – o motivasse a continuar. Questionado sobre como ele se vê dentro de alguns anos, Antônio ressalta que pretende, ou pelo menos espera, estar no ambiente rural com os filhos, que já ajudam e aparentam gostar da atividade, mesmo ainda não tendo se decidido. Essa, no entanto, mesmo sendo a vontade familiar de muitos produtores, não é a realidade vivida pela 10ª RA (Região Administrava) do Estado de São Paulo, conforme dados do Censo Agro 2017, divulgado no fim de julho pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). Conforme o levantamento, dos 21.152 produtores da região de Presidente Prudente, apenas 581 (2,75%) possui idade menor que 30 anos, o que inclui crianças, adolescentes e jovens.
O levantamento do IBGE permite analisar um panorama completo da 10ª RA, composta por 53 municípios, como o total de produtores, 21.152, que são divididos em 17.703 homens (83,69%) e 3.449 mulheres, representando 16,31% (veja a tabela). Há ainda os dados de escolaridade, como a representação de 95,26% do total que sabe ler e escrever, sendo os demais 4,74%, que somam 1.002 pessoas, não alfabetizadas. Sobre as idades, o maior público (53,09%) está entre 30 e 60 anos, sendo os demais divididos em mais de 60 anos, com 44,17% e menores de 30 anos, que somam 581 pessoas.
Ao analisar os dados, o engenheiro agrônomo do EDR (Escritório de Desenvolvimento Rural) de Presidente Venceslau, Mário Totti, afirma ver o nível de escolaridade com bons olhos na região, o que é um diferencial ao produtor, que estaria ainda mais capacitado para trabalhar. “Essas pessoas precisam estar preparadas para as diversas situações, como lidar com talões de notas, acompanhar projetos, assinar documentos e ler rótulos de produtos. Então é ótimo saber que mais de 95% sabe ler e escrever”, expõe.
Já sobre a predominância masculina no campo, o presidente do Sindicato Rural de Presidente Prudente, Carlos Roberto Biancardi, ressalta que estão coerentes os dados, visto que tradicionalmente esta é uma cultura que, principalmente nas décadas passadas, era incentivada aos homens, cenário que tende a mudar. “Não apenas neste, mas as mulheres estão visivelmente mais inseridas em todos os setores. No âmbito rural, há, inclusive, lideranças femininas e esse é um papel importante e fundamental”. Já sobre a quantidade de idosos neste mercado, que representam 44,17% do total, Biancardi ressalta que, por ser passada entre famílias, a tradição dificilmente é quebrada pelos mais velhos, que se satisfazem com a atividade. “Ambiente que traz felicidade, bem como tem o fator emocional levado em consideração”.
Sustento no campo
O produtor de Presidente Bernardes tem 44 anos e afirma trabalhar desde muito pequeno no campo, já que seu avô e sei pai chegaram a cultivar algodão e amendoim. Desde 2006 trabalhando com a produção de leite, ele afirma a dificuldade em encontrar oportunidades na cidade, mas lembra de que os sete alqueires de sua propriedade trazem felicidade e o sustendo a toda a família. “Não me vejo fazendo outra coisa e quero dar espaço aos meus dois filhos – uma menina de 17 anos e um rapaz de 9. Eles já me ajudam, e me vejo no futuro sendo feliz ao lado deles. Somos realizados no campo”, esclarece. Antônio sabe ler e escrever, mas parou os estudos no ensino fundamental.
Na contramão do que é apresentado pelo estudo, quando apenas 2,75% dos produtores têm menos de 30 anos, está o estudante, Ivo Pereira dos Santos, que largou recentemente o serviço que tinha em uma oficina mecânica para se dedicar aos estudos na Escola Técnica Estadual Doutor Antônio Eufrásio de Toledo, já que viu a necessidade de auxiliar o pai na propriedade. “Nossa chácara só trazia gastos e não produzia nada. Então decidi me juntar ao meu pai, que é técnico agrícola, e montei uma estufa para o cultivo de verduras. Isso me dá mais oportunidades, como a chance de estudar, e me sinto realizado, pois sei que posso contar com ele para tudo”. O rapaz afirma que se vê “para sempre” nessa área rural, já que dessa forma consegue ajudar a família. Ivo tem outros três irmãos, mas é o único no ramo com o pai.
Já o jovem de Narandiba e também estudante da unidade, Pablo Dalefi Silva, afirma que desde pequeno, quando assistia a programas rurais, sentiu o interesse pela área, o que se concretizou há poucos anos, quando ele teve a oportunidade – que segue até hoje – de ajudar o pai no cultivo de frutas em uma propriedade rural. “Por causa dos estudos, só ajudo ele nos fins de semana e vejo o quanto ele se sente feliz em me ver lá. Trabalhar com ele é a melhor coisa do mundo e quero permanecer desta forma por muitos anos”, acrescenta. O jovem pretende cursar Agronomia após de formado no Curso Técnico de Agropecuária.
SAIBA MAIS
Conforme o engenheiro agrônomo e professor da Escola Técnica Estadual Doutor Antônio Eufrásio de Toledo, Júlio Dominato, em Presidente Prudente, a unidade conta hoje com mais de 700 alunos em todos os cursos, sendo que maioria deles está no ensino voltado ao trabalho na zona rural. “O perfil que encontramos aqui hoje é o de pessoas que já possuem a tradição do trabalho no campo ou aqueles que buscam se inserir no mercado. É importante ver que ainda há jovens que não desistiram desse setor, já que há tantas outras oportunidades”, lembra. Segundo Júlio, há empregabilidade no ramo, mesmo que não seja na região de preferência dos candidatos.
Fonte:http://www.imparcial.com.br/